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Channel: Memórias – Léa Penteado
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As duas amigas

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Tenho uma amiga que está desistindo de viver e outra que está lutando para continuar viva. Uma entrou em depressão temperando alcoolismo com medicamentos de tarja preta. A outra descobriu por acaso um câncer quando estava no meio de um belo projeto. Apesar de nunca terem se encontrado, são da mesma geração, estão chegando aos 70. Ambas percorreram o movimento libertador da mulher nos anos 60, aderiram à pílula, tiveram atitudes fortes, lutaram por seus direitos, emocionalmente nem sempre fizeram escolhas sensatas, mas construíram uma bela trajetória. Sem religião, seita ou crença passam por esta turbulência na fragilidade da matéria.

Temo a depressão e o câncer, mas temo muito mais a falta de fé. Acompanho a distância os dois casos, envio boas energias, pensamentos positivos, Ave Maria, Pai Nosso e Salve Rainha, torço pela superação e desejo que encontrem algum alento para acalmar a angustia que deve dar cambalhotas no silencio das duvidas. Não sei como superaria qualquer uma dessas situações sem um santinho do lado, uma meditação, um terço, uma energização…. Nestas horas lembro uma conversa com minha mãe. Estávamos tomando café na pequena mesa da cozinha e, nos seus quase 80 anos, ela comentava sem mágoa ou dor, apenas relatava a certeza da velhice, o sentimento de que o tempo estava mais escasso e via o final de forma patética: “acaba como uma formiguinha que esmagamos com a unha, não existe mais nada”.

Insisti :

E a coleção de imagens de santos e anjo expostas na prateleira do quarto, o Coração de Jesus na mesinha de cabeceira, servem para quê ?  

Ela não soube responder. Como sempre pediu que rezasse por ela…

É o que tenho feito, por ela, pelas amigas e por todos… Livrai-nos da falta de alguma fé.


Arquivado em:Jornalismo, Memórias

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