Nunca assisti tantos filmes na minha vida…. Praticamente um por dia e sou muito grata à Netflix e aos amigos que mandaram dicas. O mais estranho é perceber a relação que estou desenvolvendo com os filmes… Claro que converso com cães, plantas, roupas… mas o filme continuar vivo é novidade. Eles terminam e eu continuo convivendo com os personagens, conversando, andando por cenários e imaginando o que estariam fazendo enclausurados em tempos de convid-1.
Hoje, por exemplo estou firme com a Esther, Esty, (Shira Haas) da série “Nada Ortodoxa”. Foram apenas 4 episódios, indicação do Beto Leal, amigo que mora em NYork e está recluso em Connecticut, que não sai de mim. Acredito que em outra encarnação fui judia e o Adolpho Bloch foi o primeiro a dizer “você não é goy, tem cara, nome e pensa igual a uma jewish woman”. Esta série retrata uma jovem judia moradora numa comunidade super ortodoxa no Brooklyn e me revelou tanto da cultura judaica que já ouvira e nunca tinha visto como a refeição no shabat, a escolha dos casamentos, a preparação das noivas… Junto com Esty voltei à Jerusalém e vi as mulheres andando nos shoppings sofisticados usando perucas, lenço na cabeça, saias longas puxando carrinhos de bebê e muitos filhos.
No fim de semana voltei à década de 50, viajei para o interior da Inglaterra e quem passou o domingo comigo foi Emily Mortimer, a personagem do filme “A Livraria”. O filme é de 2017, tem uma avaliação de apenas 2 estrelas num desses sites de crítica cinematográfica, mas foi uma excelente companhia. Estou até agora lembrando do livro Lolita, grande sucesso na livraria da forasteira Emily e no final surpreendente.
Já passei dias com “Madam C. J. Walker”, indicação do Bruno Astuto, a primeira mulher negra a ficar milionária. Não me conformo por não ter conhecido a sua história quando morei nos Estados Unidos. O mesmo sentimento tive ao assistir a série do Bhagwan Shree Rajneesh, Osho, afinal eu morava lá quando tudo aconteceu e me lembro vagamente de ouvir nos telejornais, nada tão impactante como o documentário. Graças a Deus não soube muito sobre o guru naquela época, pois aos 30 anos certamente ficaria tentada a conhecer a comunidade no Oregon.
Passei dias com a Yuma Takada, personagem vivida por Mei Kayama, no filme “37 Segundos” o primeiro da diretora japonesa Hikari. Não lembro quem me indicou, mas fiquei mobilizada com a delicadeza da história da cadeirante. No início o filme traz um certo incômodo, mas logo superado. Que lindo o desafio da desenhista, quanta sutileza em temas tão duros. Yuma foi comigo à praia, fiquei imaginando como se movimentaria na areia… Quem assistiu ao filme pode entender…
Alguém sugeriu assistir “O Cidadão Ilustre”, de 2017, e quanto me parece real toda a trajetória do personagem Daniel Mantovani (Oscar Martínez), um escritor argentino e vencedor do Prêmio Nobel, radicado há 40 anos na Europa, que volta ao povoado onde nasceu e que inspirou a maioria de seus livros, para receber o título de Cidadão Ilustre da cidade – um dos únicos prêmios que aceitou receber. Algumas vezes fiz matérias de artistas que ficaram famosos e voltavam à terra natal, confesso que vi cenas muito parecidas…Oscar Martinez, ou melhor, o escritor Daniel, também andou pela minha casa e acho que foi com ele que preparei o almoço segunda-feira.
Ainda acompanhei a saga da espiã do Tanger na longa série de “Em Tempos de Costura”… Creio que foram uns três dias de idas e vindas com Sira Quiroga, seus amores e desafios entre Madri, Lisboa e Tetouan, a cidade hispano-mourisca no norte da África. Na série que traz fatos históricos da Guerra Civil Espanhola de 1936 os quatro personagens inspirados em fatos reais realmente vivenciaram aqueles momentos em suas vidas, a qual foi baseado em relatos de documentários e livros de biografia existentes, cujos não são famosos a nível internacional. Essa série é uma adaptação do livro de Maria Dueñas. Viajei nos tecidos e nas costuras, um assunto que adoro. Acho que foi isso que me fez abrir os armários e voltar a costurar as máscaras que já ganharam o mundo.
E assim, estou entre filmes, panelas onde acredito que os tantos programas de culinária que assisti – sua bênção Rita Lobo, sua bênção Claude Troisgros – começaram a fluir e estou cozinhando cada vez melhor. Assim como os filmes, cada dia uma descoberta. E agora preciso dar um tempo. Estou mergulhando no estudo de “SEO – Search engine optimizer”. Quanta coisa para conhecer sobre o mundo Google… Esta quarentena tem que se prolongar, não vai dar tempo para tanta coisa, ainda mais que acabo de ler que “Casa de Papel” estreia a 4ª. temporada no fim de semana… Estarei totalmente recolhida…